As aventuras de ZP - O astronauta do pedacinho do céu.
Congo – Odzala - Ngaga - Ano de 2014 – Dia 265
N0° 24.271' E14° 36.269'
8º Capítulo de: À volta do Mundo 2
Eu tive um amor em Africa - parte V
Não há nada de vulgar no caminho que percorro…
Havia paz na aldeia dos trabalhadores do albergue, onde todos os dias me dirijo para daí iniciar ao
caminho com o rastreador de Gorilas - Calvin que agora substituía Gabin que
tinha ido de repouso à sua terra – Calvin era o único homem que não rapava o
cabelo, e o seu penteado geometral lembrava um desenho animado o que lhe dava um
ar infantil; seguindo-o de trás pelos trilhos da selva, poderia fechar os olhos
que sabia a onde ele se encontrava – emitia um cheiro forte, próprio, como um
animal selvagem, e acentuando a nuvem de odor, um pedaço de mandioca cozida
embrulhado numa folha de Marantácea – o pequeno-almoço que ainda não tinha
comido -fumegava ainda, no bolso das suas calças. Doris, varria as folhas do
chão da floresta de fronte da casa de cinco escuros quartos contíguos com portas
independentes viradas para a cozinha - o centro da aldeia, a vassoura levantava
uma nuvem de poeira, enquanto que as folhas se acumulavam no pé de uma árvore;
era uma mulher jovem de corpo e cara larga onde a luz esbarrava fazendo
ricochete, já não era uma excepção entre as mulheres o seu penteado extremamente
elaborado onde da testa partiam tranças separadas entre si em intervalos
equidistantes e que viriam a desaparecer num espesso negro rabo-de-cavalo. Tinha
um riso aberto e atrevia-se a elaborar frases em Inglês que brotavam de uma
caverna encerrada por robustas portas de marfim, quando nos cruzávamos, eu ainda
não sabia se o que ela transmitia era medo, desprezo ou indiferença, havia
outras mulheres onde esse sentimento se tornava mais presente. Nessa manhã como
era hábito, a televisão de costas viradas para a cozinha, estava desliga e não
havia discussões, o que a mim me pareciam de uma forma geral serem os diálogos
entre os trabalhadores do albergue, o povo da aldeia. Havia silêncio o que
normalmente aí não havia e era esse silêncio que me transmitia também paz…
Evito pisar nas fezes dos Gorilas que esta manhã aqui passaram e não há tanto tempo atras pois o
espesso cheiro almiscarado característico deles ainda paira no ar, e esse sim é
cheiro de animal selvagem e é um cheiro que ao contrário do cheiro dos homens,
não atrapalha! Também ao contrário da cidade a selva revela-se primeiramente aos
nossos ouvidos e ao nossos narizes – som e olfacto, a visão debate-se em saber a
onde permanecer e como ler a infinita quantidade de formas e cores verdes
aparentemente iguais, pois para os nossos citadinos olhos habituados à
geometria, às linhas recta, a multiplicidade de formas vivas – não rectilínias
– na selva, é soberana e como tal sentimo-nos desnorteados. Pelo trilho da
Floresta sempre verde, chega aos meus ouvidos a voz gutural de um Tauraco -
Corythaeola cristata o que me leva a p rocurar nas copas das árvores o seu dono,
mais à frente o carinhoso chiar de um invisível esquilo – Funisciurus sp.
metido entre a espessa vegetação das Marantáceas, ao longe o banzé dos
Chimpanzés, e agora por cima da minha cabeça, o alarme dos macacos Cercopithecus
cephus que parecem piares de aves, o tlintar metálico das rãs arborícolas Hyperolius sp. e o variadíssimo canto
dos insectos que compõem o pano de fundo da paisagem sonora. A selva não tem um
cheiro característico tal como têm outras florestas onde árvores dominantes
espalham o seu aroma, na selva os cheiros estão localizados, tal como num
supermercado, aqui e ali um cheiro novo, fugaz, único e penetrante.
Não há nada mais vulgar do que o caminho a onde me encontro…
Dor, sofrimento, perda, angustia, desespero, loucura …; a esmagadora maioria de nós, humanos,
conhece estas palavras, em diferentes contextos e quantidades. A angústia
eminente antes da perda que logo em seguida se consuma e a consequente dor,
trouxeram-me sofrimento que foi gradualmente crescendo dando lugar ao desespero,
e do desespero à loucura é pouca a distância que os separa. Este é o meu
itinerário, o mapa dos meus dias, semanas e meses; por aqui deambulo como um
vulgar ser humano atirado para o inferno criado pelo amor; sim foi o amor que
aqui me trouce! Porque amar é sofrer;! Porque se ama quem não quer ser amado;
porque ser-se amado é insatisfatoriamente pouco; porque amando-se se consome o
amor, concebido; porque quando se ama não se sabe a onde reside o amor…
Substitui-o uma dor pela outra - a dor de sentir pela dor de não se ser.
E espero os sois caírem à minha direita um após o outro, até deixar de ser e sofrer.
É-se porque se ama…
Congo – Odzala - Ngaga - Ano de 2014 – Dia 265
N0° 24.271' E14° 36.269'
8º Capítulo de: À volta do Mundo 2
Eu tive um amor em Africa - parte V
Não há nada de vulgar no caminho que percorro…
Havia paz na aldeia dos trabalhadores do albergue, onde todos os dias me dirijo para daí iniciar ao
caminho com o rastreador de Gorilas - Calvin que agora substituía Gabin que
tinha ido de repouso à sua terra – Calvin era o único homem que não rapava o
cabelo, e o seu penteado geometral lembrava um desenho animado o que lhe dava um
ar infantil; seguindo-o de trás pelos trilhos da selva, poderia fechar os olhos
que sabia a onde ele se encontrava – emitia um cheiro forte, próprio, como um
animal selvagem, e acentuando a nuvem de odor, um pedaço de mandioca cozida
embrulhado numa folha de Marantácea – o pequeno-almoço que ainda não tinha
comido -fumegava ainda, no bolso das suas calças. Doris, varria as folhas do
chão da floresta de fronte da casa de cinco escuros quartos contíguos com portas
independentes viradas para a cozinha - o centro da aldeia, a vassoura levantava
uma nuvem de poeira, enquanto que as folhas se acumulavam no pé de uma árvore;
era uma mulher jovem de corpo e cara larga onde a luz esbarrava fazendo
ricochete, já não era uma excepção entre as mulheres o seu penteado extremamente
elaborado onde da testa partiam tranças separadas entre si em intervalos
equidistantes e que viriam a desaparecer num espesso negro rabo-de-cavalo. Tinha
um riso aberto e atrevia-se a elaborar frases em Inglês que brotavam de uma
caverna encerrada por robustas portas de marfim, quando nos cruzávamos, eu ainda
não sabia se o que ela transmitia era medo, desprezo ou indiferença, havia
outras mulheres onde esse sentimento se tornava mais presente. Nessa manhã como
era hábito, a televisão de costas viradas para a cozinha, estava desliga e não
havia discussões, o que a mim me pareciam de uma forma geral serem os diálogos
entre os trabalhadores do albergue, o povo da aldeia. Havia silêncio o que
normalmente aí não havia e era esse silêncio que me transmitia também paz…
Evito pisar nas fezes dos Gorilas que esta manhã aqui passaram e não há tanto tempo atras pois o
espesso cheiro almiscarado característico deles ainda paira no ar, e esse sim é
cheiro de animal selvagem e é um cheiro que ao contrário do cheiro dos homens,
não atrapalha! Também ao contrário da cidade a selva revela-se primeiramente aos
nossos ouvidos e ao nossos narizes – som e olfacto, a visão debate-se em saber a
onde permanecer e como ler a infinita quantidade de formas e cores verdes
aparentemente iguais, pois para os nossos citadinos olhos habituados à
geometria, às linhas recta, a multiplicidade de formas vivas – não rectilínias
– na selva, é soberana e como tal sentimo-nos desnorteados. Pelo trilho da
Floresta sempre verde, chega aos meus ouvidos a voz gutural de um Tauraco -
Corythaeola cristata o que me leva a p rocurar nas copas das árvores o seu dono,
mais à frente o carinhoso chiar de um invisível esquilo – Funisciurus sp.
metido entre a espessa vegetação das Marantáceas, ao longe o banzé dos
Chimpanzés, e agora por cima da minha cabeça, o alarme dos macacos Cercopithecus
cephus que parecem piares de aves, o tlintar metálico das rãs arborícolas Hyperolius sp. e o variadíssimo canto
dos insectos que compõem o pano de fundo da paisagem sonora. A selva não tem um
cheiro característico tal como têm outras florestas onde árvores dominantes
espalham o seu aroma, na selva os cheiros estão localizados, tal como num
supermercado, aqui e ali um cheiro novo, fugaz, único e penetrante.
Não há nada mais vulgar do que o caminho a onde me encontro…
Dor, sofrimento, perda, angustia, desespero, loucura …; a esmagadora maioria de nós, humanos,
conhece estas palavras, em diferentes contextos e quantidades. A angústia
eminente antes da perda que logo em seguida se consuma e a consequente dor,
trouxeram-me sofrimento que foi gradualmente crescendo dando lugar ao desespero,
e do desespero à loucura é pouca a distância que os separa. Este é o meu
itinerário, o mapa dos meus dias, semanas e meses; por aqui deambulo como um
vulgar ser humano atirado para o inferno criado pelo amor; sim foi o amor que
aqui me trouce! Porque amar é sofrer;! Porque se ama quem não quer ser amado;
porque ser-se amado é insatisfatoriamente pouco; porque amando-se se consome o
amor, concebido; porque quando se ama não se sabe a onde reside o amor…
Substitui-o uma dor pela outra - a dor de sentir pela dor de não se ser.
E espero os sois caírem à minha direita um após o outro, até deixar de ser e sofrer.
É-se porque se ama…
As aventuras de ZP - 8º Capítulo de: À volta do Mundo 2.docx |