As aventuras de ZP - O astronauta do pedacinho do céu.
Congo – Odzala - Ngaga - Ano de 2014 – Dia 335
N0° 24.271' E14° 36.269'
14º Capítulo de: À volta do Mundo 2
Eu tive um amor em Africa - parte XI
Tormenta na selva
O céu tinge-se de laranja, enquanto que os trovões aqui e ali mancham a quase noite, ou o que resta do dia, de branco eléctrico, apresso-me a pintar o momento antes que ele mude de cor enquanto que um bando de gordos morcegos, parecendo assustados, cortam as linhas verticais dos negros troncos das árvores com um silencioso voo horizontal perdendo-se no rendilhado da orla da insondável selva. Chove lá fora. Acendo o candeeiro por cima da minha mesa, bebo um gole de café com leite e começo a sentir o vento fresco nos meus sentidos e na pele do mar de folhas de marantáceas pinceladas de prateado. A noite ganha terreno, a tormenta afastou-se para o sul, resta uma nesga de luz – que trespassa uma magra nuvem - vejo-a a desfalecer, mal se distinguem agora os gigantes verdes de braços abertos para o universo, irão dormir no coberto da escuridão enquanto que as criaturas da noite despertarão; o dia extinguiu-se.
Desperto lentamente, dando-me conta de um corpo ainda despido da sua mente, mexo-me como um se mexe um animal ferido, não tenho identidade, perdi o contacto - só por instantes - do meu ser e vem ao meu encontro uma música de um sítio não identificado – acto 1 da ópera Norma de Bellini.
Bocejo, estico a coluna, sinto o estomago pesado. Uma estranha sensação na boca, como se coubesse o mundo dentro de ela, e não me engano se durante o sono a vida ou parte de ela tenha escapado por esta porta onde tudo entra e saí – o primeiro choro e o último suspiro. Pouco-a-pouco a alma desperta, arrastando-se de um sítio incerto em direcção a outro sítio incerto. As formas dos pensamentos vão se tornando familiares, pesadas, sem terem massa – pesadelo – que esmaga o meu coração, tornando-o suficientemente fino pra caber na ranhura de uma caixa de correio – tem a espessura de uma carta de amor não correspondido, que sem querer a terei que a carregar até ao fim da minha vida. O seu peso, não é deste mundo, mas pertence a esta vida cansada de sonhar, de a carregar. E será o mel, o derramar doce de um por do sol que me levará para sempre, para longe do ser.
Ngaga 6 de Dezembro de 2014
Congo – Odzala - Ngaga - Ano de 2014 – Dia 335
N0° 24.271' E14° 36.269'
14º Capítulo de: À volta do Mundo 2
Eu tive um amor em Africa - parte XI
Tormenta na selva
O céu tinge-se de laranja, enquanto que os trovões aqui e ali mancham a quase noite, ou o que resta do dia, de branco eléctrico, apresso-me a pintar o momento antes que ele mude de cor enquanto que um bando de gordos morcegos, parecendo assustados, cortam as linhas verticais dos negros troncos das árvores com um silencioso voo horizontal perdendo-se no rendilhado da orla da insondável selva. Chove lá fora. Acendo o candeeiro por cima da minha mesa, bebo um gole de café com leite e começo a sentir o vento fresco nos meus sentidos e na pele do mar de folhas de marantáceas pinceladas de prateado. A noite ganha terreno, a tormenta afastou-se para o sul, resta uma nesga de luz – que trespassa uma magra nuvem - vejo-a a desfalecer, mal se distinguem agora os gigantes verdes de braços abertos para o universo, irão dormir no coberto da escuridão enquanto que as criaturas da noite despertarão; o dia extinguiu-se.
Desperto lentamente, dando-me conta de um corpo ainda despido da sua mente, mexo-me como um se mexe um animal ferido, não tenho identidade, perdi o contacto - só por instantes - do meu ser e vem ao meu encontro uma música de um sítio não identificado – acto 1 da ópera Norma de Bellini.
Bocejo, estico a coluna, sinto o estomago pesado. Uma estranha sensação na boca, como se coubesse o mundo dentro de ela, e não me engano se durante o sono a vida ou parte de ela tenha escapado por esta porta onde tudo entra e saí – o primeiro choro e o último suspiro. Pouco-a-pouco a alma desperta, arrastando-se de um sítio incerto em direcção a outro sítio incerto. As formas dos pensamentos vão se tornando familiares, pesadas, sem terem massa – pesadelo – que esmaga o meu coração, tornando-o suficientemente fino pra caber na ranhura de uma caixa de correio – tem a espessura de uma carta de amor não correspondido, que sem querer a terei que a carregar até ao fim da minha vida. O seu peso, não é deste mundo, mas pertence a esta vida cansada de sonhar, de a carregar. E será o mel, o derramar doce de um por do sol que me levará para sempre, para longe do ser.
Ngaga 6 de Dezembro de 2014
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