Na selva do Congo
Capítulo 8
“Estado de espirito III”
“O destino de uma pessoa nunca é um lugar, mas uma nova maneira de ver as coisas.”
Henry Miller
Levou 4 meses até que chegasse a chaleira que me iria servir água quente na selva. A primeira tentativa de encomenda - vinda de Kinshasa - não resultou pois era eléctrica...
Tivesse eu um cavalo com quem conversar e nas noites frias ao relento aqueceria ápgua na chaleira e tomaria um café negro escutando os uivos dos lobos e apreciando as suas silhuetas recortados pela lua cheia, prenha de luz. Aqui, sempre aqui, até tudo acabar, a chaleira é a minha amiga e o conforto que me dá deixa-me contente. A chaleira tem uma pega e é exclusivamente usada para aquecer a água das pequenas linhas de água ora tingidas pelas folhas tal como um chã do Ceilão ora transparentes correndo sobre leitos arenosos, ambos invisíveis do céu, cobertas pela selva. Com a sua chegada a vida no acampamento tornou-se mais confortável; Acabaram-se as panelas ao lume de pegas escaldantes embrulhadas em folhas verdes para evitar queimar os dedos – corrida contra-relógio – mesmo com o testo que se levanta a custo e se lhe dá uma volta para o pousar no chão devolvendo-o à sua mãe panela mais ou menos livre de restos de folhas do chão. Já não é preciso um copo de plástico para retirar a água que pouco-a-pouco vai acumulando impurezas das diversas vezes que as pessoas se servem. Creio que Jean, o cozinheiro também está contente com a nova companheira (o novo utensílio de cozinha) e já não tem que se apressar para reusar a panela que serve também para cozer o peixe fumado os feijões ou o arroz. Made in China letras bem visíveis gravadas entre os cravos de alumínio que seguram um dos lados da pega, corpo em alumínio, pescoço em forma de cisne e boca de peixe, alça basculante – que se move empurrando-a de um lado para o outro permitindo o acesso à tampa central que dá acesso à grande barrida de 2,5 l de capacidade - legíveis no lado oposto das letras gravadas do país que a pariu entre os cravos cravados; são ambas em plástico a alça e a pega lembrando madeira de cerejeira; a pequena pega lembra um sino invertido e a grande pega - a alça, indiferente ao fogo que aquece a água fria confere-lhe um ar tranquilo, confiante que me inspira conforto. A noite aproxima-se, fogo após fogo, a chaleira vai perdendo o seu brilho exterior, pois por fora ela cobriu-se de negro mas por dentro ela brilha, ela é de prata! Sobre mim, chamo a noite que me cobre. Espanto a tristeza. A selva enche a minha tenda de tranquilizantes sons crepusculares. O sono chegará. De manhã cedo a chaleira me esperará!
Na fisura do meu coração,
Penetrou o brilho de uma pequena estrela,
E como quem abre uma laranja em dois,
Abriu o meu coração ao mundo.
A noite iluminou o dia
Que me saudou da mesma forma despreocupada,
Como se o fim não existisse.
Declarei-me - confiante do meu amor.
Debaixo da sombria selva,
Fui luz por um instante.
Capítulo 8
“Estado de espirito III”
“O destino de uma pessoa nunca é um lugar, mas uma nova maneira de ver as coisas.”
Henry Miller
Levou 4 meses até que chegasse a chaleira que me iria servir água quente na selva. A primeira tentativa de encomenda - vinda de Kinshasa - não resultou pois era eléctrica...
Tivesse eu um cavalo com quem conversar e nas noites frias ao relento aqueceria ápgua na chaleira e tomaria um café negro escutando os uivos dos lobos e apreciando as suas silhuetas recortados pela lua cheia, prenha de luz. Aqui, sempre aqui, até tudo acabar, a chaleira é a minha amiga e o conforto que me dá deixa-me contente. A chaleira tem uma pega e é exclusivamente usada para aquecer a água das pequenas linhas de água ora tingidas pelas folhas tal como um chã do Ceilão ora transparentes correndo sobre leitos arenosos, ambos invisíveis do céu, cobertas pela selva. Com a sua chegada a vida no acampamento tornou-se mais confortável; Acabaram-se as panelas ao lume de pegas escaldantes embrulhadas em folhas verdes para evitar queimar os dedos – corrida contra-relógio – mesmo com o testo que se levanta a custo e se lhe dá uma volta para o pousar no chão devolvendo-o à sua mãe panela mais ou menos livre de restos de folhas do chão. Já não é preciso um copo de plástico para retirar a água que pouco-a-pouco vai acumulando impurezas das diversas vezes que as pessoas se servem. Creio que Jean, o cozinheiro também está contente com a nova companheira (o novo utensílio de cozinha) e já não tem que se apressar para reusar a panela que serve também para cozer o peixe fumado os feijões ou o arroz. Made in China letras bem visíveis gravadas entre os cravos de alumínio que seguram um dos lados da pega, corpo em alumínio, pescoço em forma de cisne e boca de peixe, alça basculante – que se move empurrando-a de um lado para o outro permitindo o acesso à tampa central que dá acesso à grande barrida de 2,5 l de capacidade - legíveis no lado oposto das letras gravadas do país que a pariu entre os cravos cravados; são ambas em plástico a alça e a pega lembrando madeira de cerejeira; a pequena pega lembra um sino invertido e a grande pega - a alça, indiferente ao fogo que aquece a água fria confere-lhe um ar tranquilo, confiante que me inspira conforto. A noite aproxima-se, fogo após fogo, a chaleira vai perdendo o seu brilho exterior, pois por fora ela cobriu-se de negro mas por dentro ela brilha, ela é de prata! Sobre mim, chamo a noite que me cobre. Espanto a tristeza. A selva enche a minha tenda de tranquilizantes sons crepusculares. O sono chegará. De manhã cedo a chaleira me esperará!
Na fisura do meu coração,
Penetrou o brilho de uma pequena estrela,
E como quem abre uma laranja em dois,
Abriu o meu coração ao mundo.
A noite iluminou o dia
Que me saudou da mesma forma despreocupada,
Como se o fim não existisse.
Declarei-me - confiante do meu amor.
Debaixo da sombria selva,
Fui luz por um instante.
Retalhos da vida de um Naturalista – Na selva do Congo Capítulo 8 “Estado de espirito III” |