As aventuras de ZP - O astronauta do pedacinho do céu.
Congo – Odzala - Ngaga - Ano de 2014 – Dia 312
N0° 24.271' E14° 36.269'
11º Capítulo de: À volta do Mundo 2
Eu tive um amor em Africa - parte VIII
Chegou a primeira coluna de chuva. È uma pequena chuva leve, tilintante, cinzenta clara que não tem força para ocultar o ruido de uma segunda coluna de chuva que em trote se aproxima e destemida se anuncia pisando o verde telhado vivo da floresta tropical com um característico som retirado do baú das memórias de quem viveu num tempo onde as televisões se apagavam porque as emissões terminavam. É sem dúvida um som do passado e em vias de extinção, pois as gerações que adormeceram defronte da televisão ligada e que acordariam mais tarde defronte de uma sonora chuva seca à espera de ser desligada, comprimida num minúsculo ponto de luz, que se apagaria, dando lugar a um reflexo familiar – um candeeiro, um sofá, uma destorcida imagem humana, simplesmente envelheceram e um dia padecerão, levando com elas o baú das memórias vividas para lá do conhecido, do terrestre.
Abanam as árvores as suas rebeldes cabeleiras à passagem das espessas correntes de ar provocadas pelas maciças colunas de nuvens que se apressam em ocupar os seus devidos lugares nos balcões, camarotes e camarins, para o espetáculo que ainda não começou mas que já se anunciou – empurram-se entre elas, balofas, voluminosas, independentes, e despenteiam a plateia, sopram-lhe no rosto desempoeirando-o, abrindo-lhes as caras levando pelos ares as folhas que já foram verdes e que se esponjavam ao sol mas onde agora o seu destino será o andar de baixo, a sombra, a podridão, a metamorfose, a terra, e não à de tardar muito para que voltem de novo a subir aos céus para se aquecerem ao Sol. Aterradas as árvores, agarram-se umas às outras, as que podem, e as que não podem agarram-se como se agarram os faróis à beira mar – com audácia. È um momento expectante, há suspense no ar…Uma árvore quando cai, produz um som característico, familiar, esse é o som da morte; breve, imutável, implacável.
A selva é um organismo em constante transformação cuja sua principal característica reside numa permanente impermanência de uma ordem desordenada. Confunde-nos, a nós - mortais seres temporais - com o seu obscuro exemplo de ser um lugar onde todos os seres vivos - em determinada hora e lugar - lideram todo o conjunto, sem se apoderarem da estructura a onde fazem parte. Não nos conseguimos rever na selva… Contudo à semelhança da selva, a vida, a nossa vida, adquiriu contornos semelhantes pois o conflito gerado entre o racional - premeditado e o irracional - fruto do acaso (intrincadas variáveis) - estão frequentemente em diálogo. A selva é o exemplo mais próximo e mais perfeito à Anarquia – a ordem no caos –se não for mesmo o único exemplo presente na geosfera.
Congo – Odzala - Ngaga - Ano de 2014 – Dia 312
N0° 24.271' E14° 36.269'
11º Capítulo de: À volta do Mundo 2
Eu tive um amor em Africa - parte VIII
Chegou a primeira coluna de chuva. È uma pequena chuva leve, tilintante, cinzenta clara que não tem força para ocultar o ruido de uma segunda coluna de chuva que em trote se aproxima e destemida se anuncia pisando o verde telhado vivo da floresta tropical com um característico som retirado do baú das memórias de quem viveu num tempo onde as televisões se apagavam porque as emissões terminavam. É sem dúvida um som do passado e em vias de extinção, pois as gerações que adormeceram defronte da televisão ligada e que acordariam mais tarde defronte de uma sonora chuva seca à espera de ser desligada, comprimida num minúsculo ponto de luz, que se apagaria, dando lugar a um reflexo familiar – um candeeiro, um sofá, uma destorcida imagem humana, simplesmente envelheceram e um dia padecerão, levando com elas o baú das memórias vividas para lá do conhecido, do terrestre.
Abanam as árvores as suas rebeldes cabeleiras à passagem das espessas correntes de ar provocadas pelas maciças colunas de nuvens que se apressam em ocupar os seus devidos lugares nos balcões, camarotes e camarins, para o espetáculo que ainda não começou mas que já se anunciou – empurram-se entre elas, balofas, voluminosas, independentes, e despenteiam a plateia, sopram-lhe no rosto desempoeirando-o, abrindo-lhes as caras levando pelos ares as folhas que já foram verdes e que se esponjavam ao sol mas onde agora o seu destino será o andar de baixo, a sombra, a podridão, a metamorfose, a terra, e não à de tardar muito para que voltem de novo a subir aos céus para se aquecerem ao Sol. Aterradas as árvores, agarram-se umas às outras, as que podem, e as que não podem agarram-se como se agarram os faróis à beira mar – com audácia. È um momento expectante, há suspense no ar…Uma árvore quando cai, produz um som característico, familiar, esse é o som da morte; breve, imutável, implacável.
A selva é um organismo em constante transformação cuja sua principal característica reside numa permanente impermanência de uma ordem desordenada. Confunde-nos, a nós - mortais seres temporais - com o seu obscuro exemplo de ser um lugar onde todos os seres vivos - em determinada hora e lugar - lideram todo o conjunto, sem se apoderarem da estructura a onde fazem parte. Não nos conseguimos rever na selva… Contudo à semelhança da selva, a vida, a nossa vida, adquiriu contornos semelhantes pois o conflito gerado entre o racional - premeditado e o irracional - fruto do acaso (intrincadas variáveis) - estão frequentemente em diálogo. A selva é o exemplo mais próximo e mais perfeito à Anarquia – a ordem no caos –se não for mesmo o único exemplo presente na geosfera.
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