Sábado à noite
Deambulo por entre espelhos que refletem o meu pensar;
Nunca vi nada mais morto do que a cidade que me viu passar -
Pois não há obstáculo maior à vida do que a morte por enterrar.
Fluem por entre as artérias da cidade bandos de mortos-vivos,
Sem direcção, patrulhando sinais subversivos de outras existências.
Batem corações encarcerados em teias de pensamentos;
Arrastam-se as almas deixando um rasto pegajoso no ar;
E colam-se à pele os monstros para me devorar.
Que horror que é esta cidade, cadáver por enterrar!
Porto, 22 de Julho de 2012
Domingo à tarde
Tropeço em mim próprio, o que faço eu aqui?
Agarro-me ao Sol.
Encontrei um cadáver no caminho;
Estava vestido de castanho e cinzento com listas pretas e azuis,
Tirei-lhe uma fotografia e deitei-o sobre a terra escura. Chamava-se Gaio.
Eu tinha vindo do museu, e vinha envolto por uma fina pelicula pestilenta,
Que reflectia o Sol, e Deus (se existisse…); Chamam-lhe Arte, lá dentro;
Foi no dia 28 de Julho de 2013, (para que se saiba),
O dia em que uma ave morreu.
Ainda lá dentro, seres bípedes, educadamente acotovelam-se, tiram fotografias,
E consomem oxigénio; Ah, como seria belo ver o fogo a devora-lo (!);
Por fim, poder-se-ia respirar dentro daqueles espaços incinerados!
- Há mais gado lá dentro do que aqui fora, diz o burro ao pato,
- E o pasto aqui debaixo do Sol é tenro, nutritivo, fértil, em suma útil!
Se eu fosse burro dava era um coice aquela bosta!
Retiro-me educadamente, não sou burro…
Porto, 28 de Julho de 2013